terça-feira, 17 de junho de 2014

A Invenção de Morel e as noções de cibercultura

O conto A Invenção de Morel me fez pensar sobre os equívocos que nos fazem entender a cibercultura como as experiências relacionadas diretamente ao uso de tecnologias digitais. Ao iniciar a leitura ficava me perguntando porque razões esse livro estava listado junto a um conjunto de artefatos do qual ele parecia destoar. O que um fugitivo refugiado em uma ilha quase deserta teria a ver com cibercultura e conhecimento científico?
O que faz com que essa narrativa cause esse estranhamento com relação a outras claramente voltadas à cibercultura como Matrix, Johnny Mnemonic e Her?
Pela leitura dos textos já publicados pelos colegas e pela leitura dos artigos do livro Cultura Digital.BR pude entender cibercultura como algo que vai além dos processos de digitalização da cultura, envolvendo outros modos de se relacionar socialmente no mundo (compressão do tempo e espaço, interatividade, dissolução da autoria, multiplicação da produção e disponibilização de conteúdos...). Com isso em mente passo a pensar que em A Invenção de Morel há a apresentação de uma tecnologia que ainda não foi incorporada pelo protagonista, sendo que ele passa toda a narrativa buscando compreender os mecanismos de um acontecimento estranho, formulando hipóteses a partir de suas noções culturais. Por essa razão vejo o livro como uma referência sobre a invenção de novas tecnologias e não propriamente sobre cibercultura, diferentemente das outras referências (Matrix, Johnny Mnemonic e Her) onde as tecnologias digitais fazem parte do modo de vida dos personagens, interferindo nas comunicações, nas produções culturais e no próprio entendimento de si e do mundo.
O que vocês pensam a respeito disso? Que outras relações vocês conseguiram fazer desse livro com os conceitos estudados?

por Tamiris Vaz

4 comentários:

  1. Tamiris, adorei a explanação sobre o protagonista buscar compreender a partir de suas noções culturais. Não tinha focado nessa linha de raciocínio. Afinal, a inovação é algo inédito, e ainda há um rodeio* sobre esses mistérios para outras pessoas. (Me fez lembrar de índios quando veem aviões a primeira vez e os consideram deuses - fatos reais e em Star Trek). Analisei focando na relação do protagonista com o objeto (Faustine), sua ideia de alma/consciência sendo transposta a máquina para ecoar na eternidade mesmo com o seu sacrifício e as limitações físicas quando a projeção sobrepõe ao real, não permitindo o deslocamento do indivíduo. De um modo, esse domínio do virtual* ao real na consciência humana.

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    1. Gláucia, teu exemplo dos índios me fez lembrar do filme produzido pelos irmãos Lumière, que ao reproduzir os movimentos de um trem chegando em uma estação, fez com que as pessoas presentes na sala de cinema saíssem correndo com medo de serem atropeladas.
      Hoje, com todas os aperfeiçoamentos das técnicas de captação de imagem nos parece absurdo que uma imagem de qualidade tão baixa pudesse enganar a percepção das pessoas. No entanto isso foi possível, pois não haviam outros parâmetros representativos mais realistas para aquele público. Algo muito semelhante acontece com o protagonista da Invenção de Morel que não consegue perceber a diferença entre a projeção e a matéria.
      A questão da transferência da alma/consciência também me chamou atenção, pois não havia nenhuma garantia de que isso pudesse acontecer, a não ser a extrema semelhança entre os corpos vivos e suas projeções. Me parece mais um caso de esperança de vida eterna depositada na tecnologia, como outros conhecidos desde os egípcios.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Grande obra que revela a condição humana em sua eterna busca pelo prazer sensível. Morel cria sua realidade paralela, semelhante à situação retratada no texto que postei no Blog, intitulado "Mundo Virtual": insistimos em tornar invisível aquilo que queremos "desconhecer" e enxergamos em nosso espelho de Vênus aquilo que buscamos ser para além do que realmente somos. Deixa para mim uma comparação com a obra de Kafka 'Metamorfose",onde Gregor se surpreende com sua nova condição de inseto em busca de uma "nova felicidade"

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